Cap. 61
“Por que eu não consigo dizer não para aquele sujeito?”, indaga-se Wayne em relação ao xerife de New Heaven enquanto cavalga pela noite levando Augustus até a aldeia de Cobra Traiçoeira.
Na verdade, ele não acredita que os índios conseguirão salvar aquele sujeitinho maldito do veneno da cobra que o picou, porém, leva a esperança de, num momento de extremo sofrimento do infeliz, já desenganado, ele possa meter uma bala no desgraçado e ainda parecer um herói misericordioso que acabou com o sofrimento do miserável.
“É, nada como ajudar os outros.”, segue pensando enquanto se permite um sorriso, ainda que com os lábios retraídos.
Cobra Traiçoeira emparelha seu cavalo ao do xerife e sugere:
— Daqui em diante, melhor eu ir na frente. É território do meu povo.
Wayne, desconfiado: — E quem garante que você não vai me levar para uma emboscada?
Cobra Traiçoeira: — Qual a diferença de você ir na frente ou atrás se for uma emboscada? Faria diferença um tiro no peito ou nas costas?
Wayne: — Índio, sinto que você está perdendo o respeito comigo.
Cobra Traiçoeira: — Eu quero salvar esse homem, se você quiser, pode ir embora.
Wayne: — Eu prometi ao xerife de New Heaven que levaria vocês até sua aldeia. Promessas entre xerifes não podem ser quebradas.
Por mais que Wayne desejasse manter sua palavra junto ao xerife de New Heaven, o verdadeiro motivo de fazer questão de acompanhar Augustus até a aldeia é não perder seus cavalos de vista novamente.
Se os cavalos vão até os índios, ele também irá, protegendo os animais e ajudando as pessoas, como o herói que todo xerife respeitado e admirado deve ser.
O grupo segue a jornada relativamente em paz, com Wayne se aprofundando nos prazeres da autoadmiração, Augustus, febril e transpirando uma gosma verde, e Cobra Traiçoeira, dividido entre a urgência com o moribundo mordido pela serpente e a preocupação com a expressão de quem lambeu as costas de um sapo que foi mergulhado em estrume de búfalo que toma conta do rosto do xerife.
“Ainda bem que falta pouco”, pensa o indígena, tentando se concentrar mais em seus problemas atuais do que nas questões familiares passadas que o fizeram deixar seu povo.